sexta-feira, 15 de outubro de 2010

GHAWAZEE


Nas cidades egípcias, até 1989, uma bailarina profissional era conhecida como ghazia (plural ghawazee). As ghawazee originais eram ciganas termo hoje, genérico, mas que antigamente denominava uma tribo específica. Na língua egípcia ghawazee quer dizer "invasores" ou "estrangeiros", (significando também "invasoras do coração").
Sabemos que os ciganos sempre viveram às margens da sociedade levando uma vida errante e se recusando a ajustar-se aos valores sociais, e por isso sempre foram hostilizados. Para chegarmos perto das ghawazee e acharmos o perfil de sua dança, é preciso observar mais de perto a trilha e a origem dos ciganos. Todos os ciganos do mundo têm origem na Índia e possuem uma língua comum o Romany, a qual é baseada no Hindi. As tribos ciganas originais deixaram a Índia no século V de nossa era em busca de trabalho para escapar da fome e das tribulações da existência. Partiram para o Ocidente através do Afeganistão e da Pérsia, e se dispersaram pelos rios orientais do Mediterrâneo. Alguns se dirigiram para norte e foram até a Europa, passando pela Turquia (as ghawazee eram as chamadas zinganee em Constantinopla) e ao mesmo tempo, outros subiram pela costa sul até o Egito. Alguns foram banidos como os kathaka, menestréis ambulantes originários do Sind, que partiram para o norte tornando-se os artistas oficiais da corte até serem pegos roubando tesouro imperial.


Meninas de tribos Algerianas Yousef Maazin, pai de uma das mais famosas ghawazee admite a má reputação e a expulsão por causa dos roubos. Os ciganos não possuem uma história escrita, suas tradições são transmitidas, oralmente, de geração para geração por meio da música, de suas letras e da dança, que desempenha um papel importante em sua vida. O papel dos ciganos na dança pode ser verificado pelo próprio significado do nome. Na língua turca a palavra cengi que significa dançarina é derivado da palavra cingene que quer dizer cigano. Ao contrário das pessoas criadas em sociedade, os ciganos incentivavam a vocação artística de seus filhos de modo a poderem se estabelecer. Ainda hoje existem tribos nômades na Índia, na região norte do país. Sua fé é baseada na tradição hindu e têm a Deusa Kali ,"Madona Negra", como padroeira (Kali era chamada pelos ciganos europeus de Sara a egípcia ou de Sarakali). Outra tribo de nômades fica dentro do oásis de Fayyum, no delta do Nilo, eles não falam a língua árabe e não praticam a religião mulçumana, mas viajam com outros nômades para dissimular sua identidade e evitar perseguições. A música e a dança são elementos essenciais de sua cultura. Talvez isso se deva, justamente, ao fato de não viverem dentro dos valores morais de nenhuma sociedade, já que a dança, em muitas sociedades passadas e também em algumas atuais, era considerada indigna para os cidadãos "respeitáveis", pois é uma atividade que sublima os sentidos e reduz as inibições (no séc. XIX, o médico Havelock Ellis, autor de um estudo sobre o comportamento sexual dos homens, fez o seguinte comentário em um outro contexto: "uma jovem que tenha dançado um quarto de hora se encontra no mesmo estado que uma outra que tenha bebido champagne").
As mudanças incessantes da história, o desaparecimento e as mutações dos povos, ao longo de períodos, deixaram sua marca sobre a dança, no mundo todo. Não é possível afirmar com segurança quais os elementos característicos de uma dança típica e quais os elementos de influência dos grupos migrantes O emprego e a representação em público de uma certa parte do corpo na dança é ligado em parte aos tabus e aos valores estéticos.
Como e porque as mulheres do Oriente Médio, diferentes das mulheres de outras regiões, conservaram as antigas danças de fertilidade e a transformaram em uma dança sofisticada, ainda permanece um mistério. Braços sinuosos, ondulantes e um deslizar da cabeça para as laterais são comuns nas danças indianas, persas, turcas e árabes, no entanto a árabe diferencia-se pela complexa movimentação das ancas. Denominar as danças típicas femininas como a das ghawazee é um desafio, já que as mulheres durante séculos deixaram de ser consideradas pela história. No auge da disseminação da dança das ghawazee, por volta de 1830, suas danças eram consideradas a melhor diversão de uma festa, porém Mohammed Ali governante do Egito, proibiu a dança em público, e as que tentavam burlar a nova lei eram expulsas do Cairo e mandadas para Esna.
Através de escritos de poetas, relatos de escritores e de pinturas de antigos artistas, pode-se supor que as ghawazee além de se dedicarem à dança, exerciam o trabalho também de cantoras, praticavam a arte divinatória em concha, areia e taça, realizavam partos, sabiam tocar variados instrumentos, adornavam homens e mulheres com pinturas de tatuagens e eram contadoras de histórias. Exerciam suas funções em cortejos de noivos, casamentos, animavam festas de aniversário e nascimentos. Elas andavam em grupos, pintavam o rosto e os olhos, adornavam-se com pulseiras, brincos e colares. Sua dança diferenciava-se pelo demasiado uso de movimentos grandes, cadenciados e marcados das ancas e pela ginga do corpo. Em um recente vídeo denominado Latcho Drom exibido pela TV francesa, retratando a trilha dos ciganos, podemos ver no local do oásis situado no delta do Nilo um grupo de nômades onde as mulheres, embora com diferentes trajes das originais ghawazee, apresentam uma dança que tem como características, as batidas laterais de quadril, movimentos incrivelmente largos, fortes e soltos. Essas batidas de quadril são marcadas por batidas de um dos pés no chão.

Foi interessante notar como a mulher que dançava, logo após a dança, senta no chão, junto com todos os que estão assistindo, pega o bebê da mão de outra mulher, arremessa os seios para fora de seu vestido e lhe dá de mamar enquanto outra mulher entra na roda para continuar a dança. Esta imagem para mim foi realmente profunda e significativa, afinal de contas estas mulheres, sejam ghawazee, awalim ou zinganee nos dão o recado que nossas clássicas danças do ventre não dão mais o principal sentido: o da importância de estarmos conectadas com a manutenção da terra e com a manutenção da vida na terra no contexto original de vida sadia!

Texto Dúnia La Luna
- Citações bibliográficas: Serpent of the Nile (Wendy Bonaventura)
 La Danza Magica Del Vientre (Chokry Mohamed)
 Documentário em vídeo: Latcho Drom

domingo, 10 de outubro de 2010

Música Cigana



Trilha sonora do filme cigano Latcho Drom onde aqueles que nada ou muito pouco conheçem da música cigana possam ter uma visão ampla das influências e vertentes da música Cigana.

01 Sat Bhayan Ki Ek Behanadli I 1:17 Talab Khan Barna (Rajasthan)
02 Oh Kesario Hazari Gul Ro Phool 2:53 Daoud Langa (Rajasthan)
03 Kaman Garo Kanhaji 3:20 Gazi Khan Manghaniyar (Rajasthan)
04 Sat Bhayan Ki Ek Behanadli II 2:30 Talab Khan Barna (Rajasthan)
05 Bambi Saisi 4:36 Les Musiciens Du Nil (Egypt)
06 Ya Dorah Shami 4:06 Les Musiciens Du Nil (Egypt)
07 Istanbul Drom 0:39 (Turkey)
08 Hicaz Dolap Rom 3:40 Hasam Yarim Dunya Et Son Ensemble (Turkey)
09 Balada Conducatorolui 3:58 Taraf De Haïdouks (Romania)
10 Rînd De Hore 8:11 Taraf De Haïdouks (Romania)
11 Cigány Himnusz 2:28 Rostas Szabina (Hungary)
12 Gili (Béga Sitya) 4:29 L'ensemble Kek Lang Hungary)
13 Auschwitz 1:57 Marichka (Slovakia)
14 Kali Sara 2:57 Dorado Et Tchavolo (France)
15 Tchavolo Swing 4:03 Dorado Et Tchavolo (France)
16 Ramona 3:23 Gitans De Badajoz (Spain)
17 El Pájaro Negro 8:42 La Caita (Spain)
18 Latcho Drom 1:00 (Spain)


terça-feira, 5 de outubro de 2010

Sobre o aprendizado da dança

"Eu já faço aula de DV há 2 anos e sou uma bailarina""
Frase típica das desesperadas.... das despreparadas, das desavisadas.
Creia, o aprendizado na Arte da Dança do Ventre, nunca acaba.....
Você pode até estudar muito, ser aplicada, pesquisar, cansar de assistir a vídeos de várias e diversas bailarinas. Isso com certeza fará você ter pelo menos crítica sobre o assunto. Mas "se achar" uma bailarina e pior, querer ensinar a DANÇA, aí é onde tudo se perde.
Pior mesmo, é quando a aluna, começa a sentir que a professora está sabotando, não colocando a distinta para se apresentar publicamente. No mínimo ela (a professora) tem inveja do seu potencial - rssrsrs
Meninas, pensem bem. Se for uma profissional respeitável, ela jamais deixará você pagar esse mico. Do contrário, se for uma perdida, egocêntrica, tanto quanto você, em 3 meses já estará lhe passando uma coreografia para a apresentação sabe-se Deus onde, porque precisa divulgar seu trabalho.
Daí o que vemos é uma enchente de shows, audições, apresentações, festas, onde o repertório é no mínimo decadente e pobre, aliás muito pobre - tosco mesmo.
Me resta a pergunta, onde ficou a Arte?


Mas ainda tem aquelas que por continuarem na ilusão de que a professora tá sabotando descaradamente, muda de professora e ainda fala mal prá todo mundo.

Defama, indubitavelemente. Inventa, Despreza. E compara - claro, porque tem que comparar. Até o cabelo da nova professora passa a ser mais bonito. Vira uma simbiose se a "nova" professora deixar seu ego gritar nesse momento e aí sim, a casa cai. Aliás, caem as duas, porque o universo da competitividade a todo custo ganha status de sucesso.
É detestável  alunas que desdenham de sua professora por pior que ela seja, já que era ela que estava lá quando conheceu a dança pela primeira vez.
Lógico que podemos traçar atributos, e didática, e uma infinidade de qualidades e defeitos, afinal professoras são mulheres - srsrsrsrs
Mas criticar pelo simples fato de querer ganahr a nova professora na lábia, sinto muito, é falta de caráter.
Eu tive várias professoras de dança e com cada uma aprendi um monte de coisas, maneiras diferentes de executar o mesmo movimento, habilidades, estórias, dicas. Por pior que seja uma profissional, até o que não deve ser feito ela ensina, desde que a "aluna" tenha conhecimento para perceber isso.
Portanto, finalizando, bailarinas do meu Brasil varonil, vamos ser éticas.....

domingo, 3 de outubro de 2010

Certa vez chegaram à corte do príncipe de Birkasha uma dançarina e os seus músicos. Tendo sido admitida na corte, ela dançou a música da flauta, do alaúde e da cítara.
Executou a dança das chamas e do fogo e a dança das espadas e das lanças. Dançou as estrelas e o espaço e então, ela dançou a dança das flores ao vento.

Quando terminou, aproximou-se do príncipe e curvou o corpo, em reverência, diante dele.

O príncipe ordenou que ela se aproximasse e perguntou-lhe:

"Bela mulher, filha da graça e do encanto, de onde vem a sua arte e o que é este seu poder ao comandar todos os elementos nos seus ritmos e versos?"

E a dançarina, aproximando-se, curvou mais uma vez o corpo em reverência e respondeu.

"Sua alteza, sereníssimo senhor, eu não sei a resposta às suas perguntas. Somente isto eu sei: a alma do filósofo habita na sua mente, a alma do poeta habita no seu coração, a alma do cantor habita na sua garganta, mas a alma da dançarina habita em todo o seu corpo."

(Extraído do livro "O Viajante" de Khalil Gibran)

sábado, 2 de outubro de 2010

A Dança como expressão de sentimentos

Não basta saber a técnica (claro que isso é importante), mas além de estudo e dedicação, a bailarina é antes de tudo uma intérprete. sim, pois quando em palco, bailarina e melodia passam a ser um só corpo. Conversando com Mahmoud Al Masri, um dia, ele me disse: "Antes de aprender a dançar, a bailarina tem que aprender música, pois sem música não há dança."
E ele está cobertíssimo de razão.
Frequentemente, vemos bailarina escolhendo a música para executar sua dança sem ao menos conehcer seu ritmo (imperdoável) e muito emnos o que se está dizendo - qual a mensagem da música. Principalmente na dança oriental isso é aidna mais comum. Daí a bailarina se produz toda, entra em cena arrasando, faz caras e bocas, mas a música escolhida está justamente falando da guerra entre povos que mataram a família inteira do compositor. A música retrata a dor de uma violência entre povos e a balairina segue sensual e provocante...
Isso fere uma cultura.
Isso fere os princípios da arte.
Por isso meninas, não digo que é necessário aprender árabe ou libanês, ou indiano. Mas ouse pesquisar antes a música escolhida.
Tenho uma música, que considero uma obra-prima, de Omar Faruk Tekbilek- do álbum One Truth - Manhem, onde ele ora ao seu Deus. Infelizmente já vi bailarinas se apresentarem com essa música, de véu e e tudo, em trajes sumários e olhos nada sensuais pois beiravam a vulgaridade.
Dança é sentimento. Dança é uma porta para expressar-se.
Permita-se expressar seus sentimentos, mas saiba fazê-lo.
Isso é só uma dica às bailarinas ocidentais.